domingo, 19 de junho de 2011

O Assacino

A oração começou igual a qualquer outra. Não, não foi com o ‘pai nosso que estás no céu’; foram com os ‘santificados’ dois dedos após a margem e uma vírgula companheira. Enquanto o verbo corria solto, livre; o parágrafo estava preso, acorrentado a perguntas de uma pontuação nervoza e arrogante. A Delegada Interrogação, por sua vez, olhava atentamente para o apóstrofo, que envergonhado da cagada que fizera se escondia ao lado de letras falsas e palavras sujas.

Os parênteses da vítima chegaram abalados e totalmente perplexos com a ação tomada pelos advérbios, que haviam auterado e bagunçado os adjetivos da cena do crime. Era final de tarde e a preocupação pairava sobre o local. Um assassinato aconteceu, e o que era pior: passaram a borracha nas provas.

- Agora fudeu, mataram a gramática! Disse o Inspetor Aurélio olhado para a Delegada Interrogação, enquanto fumava um cachimbo de trema e seguia em direção aos parênteses da vítima. Coitada, já era idosa, não precisava passar por isso; com tanta reforma na estrutura ortográfica, não ia dura muito tempo. Comentava com a cabeça baixa o Oficial Substantivo.

A noite chegou. Todos se encontravam no Dicionário central da cidade quando a Doutora Ênfase chegou do laboratório de produção textual e disse: Já temos um culpado! Metafóricos, todos os presentes se entreolharam. E a Doutora continuou: não é a primeira vez que ele comete um crime. É um Serial killer.  E está ajindo desde a primeira linha! Encontramos o ésse em pedaços e o acento afogado. Ele está aqui! Prendam-no, ele é o escritor!


P.s.: Neste texto existem 6(seis) palavras grafadas de modo errado, tente descobrir quais são!
Os 3 primeiros a responderem corretamente ganham vales Rex-Dog.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Caneca azul


Cedo é o dia que acabou de terminar. Do alto da minha janela vejo pessoas vagando sem ter pra onde ir. Não, não são simples pessoas: são Marias, Josés, Antônios, Fátimas, etc. tendo ou não o Silva como sobrenome, são brasileiros, filhos desta terra abençoada por Deus e bonita (?) pelas mãos do homem.

Do alto desta pequena porta para o mundo, vejo carros passando tão depressa quanto a rotina que perturba a vida dos milhões de trabalhadores que acordam todos os dias sabendo que precisam ser mais rápidos que os demais, senão perdem o ônibus e ganham um belo desconto no fim do mês.

Da parte baixa da janela, entre as cortinas, vejo as inúmeras famílias se digladiando logo nas primeiras horas do dia. Vejo pais esbofeteando educando filhos, mulheres enroladas entre lençóis com outros homens, casais que nem se quer trocam olhares ou poucas palavras.

Do alto dessa janela enxergo um garotinho, com uma caneca de plástico azul, sentado em um banco velho, em meio a todo esse caos. Ele é pequeno, mas possui olhos serenos e atentos. Seu olhar de súplica é constrangedor e está voltado diretamente para o meu, como se implorasse para fazer algo para ajuda-lo. Fecho a janela e me recolho no inferno que está minha cabeça. Como pode uma criança tão pequena viver nesse mundo de caos? O certo é que ele não vive. Sobrevive.

Só porque não temos de um tudo na vida, não significa que somos piores ou melhores do que as outras pessoas. Não importa de onde você vem ou o que você foi, o importante é pra onde você pretende seguir e o que você almeja ser. Hoje, sei que aquele garoto da caneca azul sou eu. E, até hoje, continuo sobrevivendo do alto da minha janela a esse mundo chamado Caos.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Dança do dia a dia

Você disse que não sabia dançar, mas foi o primeiro a dançar quando a crise chegou. Dançou de alegria por ter ficado e por perceber que estava no passo certo e não apenas dançando conforme a música. Dançava na chuva para não ser mais um a dançar no trabalho. Aos poucos, foi aprendendo ritmos novos. Rebolados. De tanto rebolar pra resolver as coisas, aprendeu que em reuniões, o jogo de cintura era muito mais importante do que as planilhas do Excel. E que o gingado inteligente, ia mais longe do que qualquer salto de balé.

Um dia, acabou dançando porque chegou mais uma vez atrasado. E descobriu que por um passo errado, a música para. Agora, dançava atrás de uma nova música. Um novo tom. Dançava pra encontrar alguém que lhe ajudasse a compor uma nova versão da sua trilha de sucesso. Em escala maior, criou o agudo, ou melhor, a dança do agoniado. De tanto dançar de um lado para outro, ganhou um calo no pé. Mas, sem abaixar a cabeça ou perder o rebolado, saiu em busca de uma nova partitura. Decidido e com sapatos novos, passou a dançar a noite toda e sem ter tempo pra dançar, tirava o sustento com a nova partitura.

Enquanto os outros ficavam no dois pra lá e dois pra cá, o dançarino se arriscava em um requebrado mais ousado. E quando a crise chegasse, estaria pronto para dançar com ela e não dançar por causa dela. 

terça-feira, 31 de maio de 2011

Filosofia


Não faça chorar àquela pobre criança que sempre lhe olhou sorrindo, pois um dia, essa mesma criança aprenderá a sorrir enquanto você chora. E, só então será possível mensurar o estrago feito por uma palavra não dita ou um abraço que não se completou. Ame a vida que lhe foi dada e viva com orgulho a vida que escolheu amar, mesmo não sendo fã de poesia e não sabendo por onde começar.

Prestar atenção em quem está ao seu lado pode ser mais importante do que acertar na loteria e ter a felicidade de se tornar milionário. Somos passíveis de erros, por isso, todos deveriam ter uma segunda chance. Errar é humano e persistir no erro não é sinal de burrice, é descobrir a essência de Thomas Edison e de maneira autodidata, aprender uma nova forma para não errar novamente.

As amizades quando verdadeiras prevalecem por longos anos e esses verdadeiros amigos, mesmo ausentes por tanto tempo descobrem no um a real importância do outro. Dizer ‘eu te amo’ é simples e muito fácil, o difícil mesmo é calar-se e mesmo assim, ter seu amor compreendido pelo outro. O beijo roubado é infinitamente melhor e mais saboroso do que aquele que é solicitado. E o conquistado então? Esse, nunca se perderá no imenso mar de lembranças.

Somos fruto de um mundo que não para, de um tempo veloz, sedutor e que pouco a pouco nos toma pelos braços e nos conduz para um local um tanto quanto diferente. Um local onde a experiência vale mais do que o porte físico e que as memórias adquiridas se tornam de extrema funcionalidade. Estamos em casa e, nessa casa chamada vida, todos sem exceção são bem-vindos e merecem uma chance, às vezes até duas, de chegarem e ficar pra sempre.

domingo, 15 de maio de 2011

Nostalgia

A necessidade de ficar em paz era maior do que a vontade de mexer-se outra vez. E a cada passo dado, uma certeza se confirmava. A cada respiração profunda, uma nova vitalidade preenchia velhos pulmões cansados de tantos cigarros e outras porcarias. Um sorriso se perdera em meio a tantos outros, uma boca cansada de tanto falar asneiras agora repousava sobre nova companhia e, um pranto lamentável ainda pairava sobre o coração da menina que um dia foi mulher.

Um dia, hei de lembrar-te dos verdes campos e das palmeiras onde cantava o sabiá. Da menina bonita que corria mar adentro na esperança de alcançar Iemanjá. Das estripulias que eram feitas durante as tardes entediantes de um verão contínuo. Da lágrima comovente que do seu rosto escorria ao vê-lo partir e de todo o cenário tranquilo que ficou para trás.

O tempo agora é outro, mas, a necessidade da lembrança é a mesma. Viver um tempo que não lhe pertence mais é tão bom quanto o novo tempo que ainda há de vir. O mundo vive de passado, de histórias, lembranças e de vários acontecimentos marcantes. Como podes julgar ser o seu tempo mais importante do que o do outro? Como pode não achar significância em cada ato acometido no passado? Nosso passado não deve ser ignorado, deve servir de aprendizado para o futuro.

Espero um dia encontrar um passado cujo nome seja esperança, para assim, ter a certeza de que ele será o último a morrer.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A resposta é sim

Pela última vez, será que da pra você parar de falar e me ouvir? Toda vez é assim, você nunca escuta! Nunca aceita que está errado e sempre tem resposta na ponta da língua pra tudo. Pra tudo mesmo! Que coisa mais chata. Esse seu orgulho não vai levar você a lugar nenhum e ainda por cima, acaba com qualquer coisa. Presta atenção no que você está fazendo...

Algumas horas depois de uma ladainha que parecia não ter fim e de deixar qualquer psicólogo cansado, só conseguia lembrar uma, apenas uma coisa entre tantas outras que você dizia aquela noite: “não me diga que vai parar e que vai mudar, eu não acredito mais! Porque toda vez é assim, basta eu sair que você vai lá e faz tudo de novo, do mesmo jeito. Esse seu orgulho acaba com qualquer coisa, só você que não enxerga isso”.

Depois disso, eu queria começar esquecendo tudo. Apagando letra por letra, palavra por palavra, lembrança por lembrança. Queria poder ir ao médico e fazê-lo deletar cada memória angustiante, cada verso declamado, cada bilhete escrito. Mas, lembrei-me das palavras sensatas e coerentes de Paulo Coelho: "Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela".

Enquanto tentava limpar a bagunça que você havia deixado na minha cabeça, sorria sozinho com as paredes, pois mesmo depois de tudo o que você disse, não conseguia sentir outra coisa se não gratidão. Você sempre foi uma grande amiga e mesmo morando longe se fazia presente. E no final das contas só pensava: “Caramba, você vai mesmo casar!" E mesmo separados por algumas centenas de quilômetros, eu tinha certeza que você seria feliz. Ah, a resposta é sim! Com certeza serei seu padrinho!

(Para Tata)

domingo, 8 de maio de 2011

Diálogo diferente

Era só mais um casal na mesa ao lado, mas a sua indelicadeza persistia em apontar defeitos sobre eles. A reclamação era clara e fundamentada em um medo desconhecido de que aquilo que ocorria naquela mesa viesse a acontecer conosco. “Por que não separa logo ao invés de ficar assim?” Você continuava me perguntando e ‘alfinetando’ as duas pessoas que nem conhecia só porque estavam sentadas lado a lado e nem se olhavam. Por um momento cheguei a concordar com você, não me imaginava sentado ao seu lado na mesa de um bar sem que um bom papo surgisse.

Enquanto isso defendia a ideia de que essa enorme distância entre duas pessoas que se encontravam muito próximas tinha e não tinha explicação. Tinha explicação porque a sintonia que girava ao redor deles podia ser tão soberana que dispensava a conversa verbal e criava uma espécie de ‘diálogo diferente’, onde apenas o fato de estar perto e olhar nos olhos revelavam os desejos de um ao outro. E, não tinha explicação quando a sintonia era fraca, as preferências distintas, as ideias contrárias e por isso, acabava ficando diferente do ditado: “os opostos se atraem”.

Você alegava que aquilo era um defeito gigantesco para uma relação, que não conseguia entender como duas pessoas chegavam a esse nível de erro e o que era pior, condenava-os por sentarem-se à mesa de um bar e não conversarem, como se aquilo tudo fosse o fim do mundo.

Como último recurso para acabar com essa discussão besta e infantil, coloquei os dedos sobre o seu queixo e o puxei para o lado enquanto acariciava as maçãs do seu rosto com os dedos da outra mão. Um beijo mais demorado do que o de costume, um leve alisar de cabelo e um breve sussurro ao pé do ouvido: “O coração das pessoas são como pedras brutas de diamantes, a cada erro que cometem, uma lasca dessa pedra é retirada, até tornarem-se uma joia perfeita, valiosa e praticamente indestrutível. Por isso os ditados insistem em dizer que devemos aprender com os nossos erros. Errar é bom, partindo do principio de que é com eles que as pessoas se tornam melhores”. 

Eu já disse que amo você, mas será que a gente pode mudar de assunto?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Música errada na hora certa

Onze e vinte e três de um sábado à noite. Mas, o que seria uma hora e vinte e três minutos de expectativa pra quem esperou uma noite inteira.  Mesmo após tanto tempo sentado, ainda me impressionava com a maciez do sofá da sua mãe.  A velha cadeira de balanço preta, que fazia um barulho agudo todo vez que alguém se embalava, agora estava muda. No vazio da sala, o som da TV preenchia o oco da minha cabeça e, o tic-tac do relógio ficava cada vez mais lento e a espera parecia não ter fim. 

Alguns cochilos depois, você entra pela sala e como em um passe de mágica, transforma um lindo sorriso em um bico tão grande quanto o de um tucano. Nem bem me cumprimentou e já foi partindo porta afora. “A gente vai se atrasar se você continuar dormindo!” você dizia com a voz ríspida e seca, enquanto ia em direção ao carro demonstrando raiva por eu ter cochilado; “Também pudera, você demorou um tempão”.

No rádio, uma música de Jota Quest refletiu um desejo que apesar de tudo, não parecia ser nosso: “Quer saber, já foi. Vou cuidar de mim”. O sinal ficou vermelho e o carro parou no momento em que você me olhava. Olhei de volta com a mesma arrogância com a qual fui tratado minutos antes e para minha surpresa, você deu um belo e radiante sorriso enquanto pedia desculpas e se defendia, dizendo que estava de TPM e que não tinha intenção alguma em me tratar mal. E eu não conseguia fazer outra coisa, se não sorrir de volta e colocar uma música mais agitada.

terça-feira, 3 de maio de 2011

E se eu tivesse ido?

Outro dia chegou atrasado e quando perguntei o motivo, saiu reclamando, dizendo que um idiota tinha cortado sua frente e por isso quase causava um acidente. Mas, nem se quer reparou que eu tinha cortado o cabelo. “Você cortou só dois dedos, como eu ia adivinhar?”. Não tinha cortado tudo isso, apenas as pontas. Mas, de que adiantaria ter ou não cortado, ele nunca iria “adivinhar”. Sempre fui carinhosa, melosa, cheia de mimos e caprichos. Me doei pra ele. Me entreguei de corpo e alma àquele amor imensurável que sentia, enquanto ele relutava e ficava sem graça em dizer que me amava na frente dos amigos.

Naquela manhã cinzenta, acordei disposta e decidida. Eu ia mudar! Não seria mais a menininha delicada e frágil que sempre precisou estar perto para se sentir protegida. Comecei desejando cores novas para minhas unhas. Vermelho-rubi, pra ver se conseguia chamar um pouco mais de atenção. Um dia de beleza, pra ver se virava uma musa do funk carioca, daquelas capazes de fazer o melhor motorista perder a linha e quase causar um acidente. Cabelo, maquiagem, contorno e uma hidratação. Me sentia uma perfeita diva e ia fazer de tudo para aquele dia ser mais do que especial, queria que ele fosse como a nossa primeira vez.

Lá pelas oito da noite cheguei em casa e tomei um banho rápido. Vesti um pretinho básico, daqueles que fica colado na bunda e deixa as pernas mais grossas. Por baixo, minha melhor lingerie. Um par de brincos vermelhos, para combinar com as unhas e um salto um tanto quanto alto, pra ficar do tamanho dele. Pronto! Agora eu estava pronta para ir à guerra e dessa vez, ele iria morrer (de tesão). 

Já eram quase dez e meia e nada dele aparecer. Liguei no celular e nada. Mandei mensagem e nada também. Esperei, esperei e esperei. Por volta de uma e pouco da manhã, após milhões de ligações e mensagens, e vários litros de lágrimas pelo vestido, ele voltou à ligação: “Que foi? Tem um monte de ligações suas aqui!” – “Não foi nada, só estava preocupada”. Não sei o que ele estava fazendo, não perguntei e não queria saber. E o que é pior, nem percebeu minha voz um pouco rouca e o soluço incontrolável de quem passou a noite inteira chorando por ele.

Voltei a chorar. As lágrimas agora saltavam dos olhos, feito pipoca em panela quente. A maquiagem, agora lavada com pranto, contribuía para aquela cena de horror. As mãos trêmulas se juntavam a uma vontade de sumir e nunca mais aparecer. Estava preste a morrer de desgosto quando o telefone tocou.

“Que é?” atendi com a voz embargada de tanto chorar. “você era mais educada hein?” a voz do outro lado respondeu sorrindo. Um suspiro mais forte da minha parte e ele continuou: “É o Rafael, lembra? O Rafa, amigo da Susi. Então, tô ligando porque acabei de chegar de viagem e tô chamando o pessoal pra ir pra balada, vamos comemorar  minha transferência de volta pra cá. Ah, a Susi vai, daí pensei em chamar você, tá convidada viu?”.

Um tanto quanto assustada, respondi um “OK”, tão frio que até fiquei mal depois. Um carinha qualquer, que havia pegado meu número um tempo atrás, tinha acabado de me chamar pra sair. Confesso que de início, nem lembrava quem era Rafael, muito menos Rafa. Mas, de que adiantaria, a noite estava perdida. E, até hoje me pergunto: E se eu tivesse ido? E entre lágrimas e soluços, adormeci mais uma noite sozinha. 

domingo, 1 de maio de 2011

Amor de aluguel

“Para-para-para, vai com calma!” Era só o que eu pedia pra ele entre um beijo e outro, enquanto procurava oxigênio para encher novamente os pulmões. Uma de suas mãos deslizava entre minhas pernas e vez que outra, encontrava o local que ele tanto queria aquela noite, enquanto a outra segurava com força meus cabelos escondidos próximos à nuca. Sede. Desejo. Paixão. Não sei! Com um pouco mais de destreza, a mão que antes passeava morro abaixo, agora percorria minha cintura, não tão fina quanto às de modelo, e dedo após dedo, caminhava sobre ela. Era só uma questão de tempo até ele encontrar meus seios um tanto quanto flácidos.

Após contar sobre sua última transa, ainda com o corpo suado, levantou e foi ao banheiro. O balançar do seu cabelo castanho claro e com algumas mechas um pouco loiras transformavam seu rosto de boneca em o de uma mulher. “não-não, brigada” respondeu de dentro do banheiro recusando a oferta de um cigarro. Sentado sobre a cama e com as costas voltadas pra parede, mirava a porta por onde ela havia entrado, esperando seu retorno.

“A conta, por favor”. Sair daquele motel sofisticado foi mais difícil do que entrar. Inúmeras perguntas de avaliação de atendimento, cadastros, pagamento, checkout do quarto e por fim, a saída. Já passava das cinco da manhã quando a deixei na porta de um sobrado no centro da cidade. Um beijo de despedia  no rosto, seguido de um abraço rápido; foi tudo que sobrou para aquele fim de noite e, literalmente, começo de manhã.

Voltando pra casa, observava o sol acordar para mais um dia, e ficava impressionado com a disposição das jovens senhoras que caminhavam pelas ruas tranquilas. Nesse momento, sorri comigo mesmo, lembrando-me do jargão que sempre repeti: “segunda-feira eu também começo”.  E, em meio a gargalhadas, liguei o som para espantar o sono, e para minha surpresa, a sua música favorita tocou, e aos poucos foi preenchendo o silêncio do banco vazio. O sorriso diminuiu, a frustração chegou e agora, uma nova pergunta revirava minha cabeça: “será que ela valia aquilo tudo?”.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Recomeço

Você balbuciou algumas besteiras tentando me ferir e se esqueceu de olhar no espelho. As farpas que tinham como endereço o meu peito, retornaram com violência pra dentro do seu. Palavras erradas, ditas de maneira sincera. Verdades que não significavam absolutamente nada, mas, em seu mundo de faz de conta, seriam sinônimos de coragem. Você disparou contra mim, e se gabava disso. E eu, lamentava sua total falta de controle.

Já era final de tarde quando resolvi olhar pela janela. A mesma cena se repetia. No mesmo cenário, nada tinha mudado, a não ser pela sua total discrepância que ainda remoía meu estômago, igual àquela vez que comemos o pudim que estava há três semanas na geladeira. A velha parede branca, agora com algumas sujeiras de lama por causa das fortes chuvas, foi a única coisa que mudou. Porque a grama, que nunca vai ser tão verde quanto à do vizinho por conta dos inúmeros grilos que moram no jardim, continuava a mesma. Lá fora, tudo estava do mesmo jeito. Aqui dentro, tudo se reconstruía.

Um dia você vai me pedir pra voltar, e eu, vou olhar nos seus olhos, enquanto abraço sua mão contra o peito e com um tímido sorriso amarelo, vou dizer: “sabe, o problema agora não é mais com você, é comigo, desculpa!”. 

Então, vou puxar a cadeira e me sentar, enquanto fico pacientemente me perguntando se essa seria a melhor decisão.

Já passava das 11 da noite e tudo o que eu tinha feito era pensar e consumir alguns goles de um uísque falsificado e um tanto quanto aguado. Era estranho estar sentado ali, mas, ao mesmo tempo, era a única forma de reviver um romance que não existia mais, um romance que havia se dissolvido, feito o gelo no copo de um uísque falsificado.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Sinfonia no Jardim

É difícil entender como uma noite que está tão boa, consegue se transformar em um pesadelo.  Tudo ia super bem, a garoa já tinha parado; a lua, mesmo encoberta por algumas finas camadas de nuvem, brilhava e refletia nos seus olhos, todos os meus desejos.

Saí de casa tão depressa que nem reparei que ao lado de fora, a garoa já tinha parado e a baixa temperatura tinha feito o orvalho se espalhar pela grama. O cricrilar dos grilos, pareciam uma sinfonia quando se juntavam com o coaxar de alguns sapos que estavam espalhados pelo jardim. A noite era perfeita, digna de um verdadeiro romance. E quando dei por mim, lá estava eu, sentado outra vez no banco do passageiro do seu carro.

Seria muito prazeroso ficar ali, parado, admirando seu olhar e sua gargalhada estridente por me ver todo arrumado e com um corte de cabelo novo. Pra completar, o som ambiente ficou ainda melhor por conta da trilha sonora que rolava dentro do carro. Não lembro bem o nome da música, mas era da banda Maskavo. E você, achando que eu não conhecia, ficava insistindo que a banda era muito boa.

Quando a música parou, cerca de um minuto depois que eu entrei, eu perguntei para onde íamos, e você rapidamente tratou de tirar o sorriso do rosto dizendo “pra lugar nenhum, hoje, a gente conversa aqui mesmo”. Confesso que achei estranho, mas, logo fui compreendendo a situação.

“É, a garoa parou!”, você falou enquanto colocava a mão para fora da janela. Sem pestanejar, abrir a porta e saltei. A sinfonia do jardim continuava a mesma, só que agora, a plateia era formada por duas pessoas. Sem pensar muito, levantei a cabeça e olhei pra lua. Apesar da noite está fria, a lua parecia brilhar como o sol, exceto por algumas nuvens fininhas que insistiam em fazer parte do cenário e durante alguns momentos, impediam o seu brilho total.

“precisamos conversar!” você disparou com uma voz rouca e mais fria do que a noite que estava fazendo. Sentada no capô, você me tomou pelas mãos e disse que o problema não era comigo, mas sim com você. Por um instante, a sinfonia parou, o brilho da lua foi encoberto pelas nuvens e gotas de chuva caíam sobre seu rosto, se misturando com algumas lágrimas a mais. 

“Desculpa...” era só o que eu conseguia escutar você dizendo.

sábado, 16 de abril de 2011

Batom Laranja

Coisas incríveis também acontecem com pessoas normais. Em um momento estamos ricos e de repente: PUFF! Perdemos tudo! Ou ao contrário, estamos pobres e de repente ficamos ricos! - Tá, esse último é bem mais difícil de acontecer, mas acontece!

Mais de um mês tinha se passado desde o nosso último abraço, e eu ainda lembrava o quão ele era confortável. Lembrava também da manchinha que apareceu no seu rosto e tinha te deixado paranoica. Era uma coisa tão pequena, que parecia uma lágrima. Até hoje lembro as suas constantes reclamações por causa daquela coisinha minúscula que nunca saia do seu rosto e dos óculos escuro bem grande que você usava para escondê-la. Mas, quer saber? Eu até que gostei, porque você ficava ainda mais normal e menos Barbie.

- Alô? Duda? Tá me ouvindo? Essa introdução se repetiu por quase um mês. Entre altos e baixos, me contava tudo sobre sua viagem a São Paulo. As idas e vindas pelo interior paulista. De Araras para Americana e vice-versa. Tudo era motivo de alegria e festa, não tinha espaço para problemas. Durante quase um mês eu fui somente ouvidos. Estava me sentindo praticamente uma Orelha Gigante, mas, não tinha do que reclamar.

Durante uma de nossas conversas, você me apresentou seu mais novo item de beleza: um batom de cor laranja. De início, confesso que achei estranho. Mas, você foi logo tratando de mandar uma foto com o tal batom. Não deu outra! Sua boca sedutora, com lábios bem desenhados e não muito carnudos estavam perfeitos! Foi a primeira vez que vi um batom de cor laranja, mas, não foi a primeira vez que admirei e desejei sua boca.

A melhor foto, o melhor sorriso e o melhor olhar, estavam juntos com o maior problema: o coração. Não que este último seja um problema, mas sim, o fato de não estar dentro dele.

Nossas conversas nunca deixarão de existir, só que agora, somos duas Orelhas Gigantes, com a pequena diferença de que uma, tem uma boca que usa um batom laranja e a outra, nem coração tem.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Me procurou por que?

A gente se viu apenas uma vez, mas parecia que já nos conhecíamos há vários anos. No meio de toda aquela agitação de pessoas passando na rua, ela sorriu com o canto da boca e revelou um certo ar de interesse.

Radiante. Acho que esse é o melhor adjetivo para descrever o quanto seu sorriso era bonito. Encantado, fiquei cego por alguns instantes e quase tropecei na calçada com degraus um pouco fora dos padrões.

Durou pouco tempo, mas valeu a pena e se tivesse tropeçado na calçada, acredito que valeria mais! Pelo menos ela se lembraria daquele cara qualquer que caiu na calçada enquanto olhava pra ela.
Em casa, não conseguia parar de pensar naquele sorriso maravilhoso. Um sorriso que nunca mais veria, até ligar o computador.

Navegando na internet noite adentro, entre sites de humor, filmes, notícias, crônicas de Arnaldo Jabor, poesias de Fernando Pessoa, Marta Meirelles, etc. visitei minhas redes sociais. E quem estava lá? A moça do belo sorriso e cabelos avermelhados.

Conversamos durante horas. Vários assuntos iam surgindo e puxavam outros que davam origens a outros e etc. Enfim, parecia tudo muito bom, achei que dessa vez tinha acertado uma loteria. Até que uma célebre frase foi dita: “Eu sou casada, desculpa”.

“Me procurou por quê?” essa foi a única pergunta que eu não fiz.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Bastou um olhar

Bastou um olhar, um pouco mais de três segundos para eu ter a certeza de que era com ela que queria ficar. Seus belos cabelos longos e castanhos chegavam à altura do cóccix onde meus olhos se perdiam em suas belas curvas torneáveis.

Uma troca de olhar. Ela passou por mim confiante, esplêndida, dona de si e de mim. O local onde estávamos estava cheio, mas, mesmo assim, consegui acompanha-la e perceber a cada passo seu, um desejo meu.
Parei ao seu lado e perguntei seu nome. Com uma mão sobre sua cinturinha de pilão e a outra sobre seu queixo, beije-lhe a boca antes mesmo que ela respondesse a pergunta. A festa parou! Todos em volta olharam boquiabertos aquele beijo que lembrava a cena de algum filme Hollywoodiano.

Enquanto beijava a bela menina de olhos claros e seios fartos, sentia o coração pulsar em ritmo acelerado e contente, sorri para ela assim que parei de beija-la e para minha felicidade, ela sorriu de volta.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um dia qualquer

Era impressionante e ao mesmo tempo angustiante passar cada segundo sem saber pra onde ela olhava. Não sabia se as flechas que disparava com os olhos em sua direção, acertavam o alvo ou eram refletidas por um imenso escudo em forma de óculos escuro. Cada segundo parecia durar uma eternidade. Um sorriso com o canto da boca, um leve toque nos lábios com os dedos, e só. Por um período que prefiro chamar de longo, apesar de representar frações de uma hora, não conseguia penetrar em seu casulo forte e resistente. Um óculos escuro era tudo que o separava da verdade e o mantinha em um mar de incerteza. Por sorte ou por puro acaso, seus caminhos enfim se encontrariam. Começou a chover. No início, uma chuva bem fininha caía sobre o salão onde estavam e em pouco tempo se tornou uma tormenta de proporções gigantescas.  Devido à área coberta do local ser bem menor do que imaginavam, foram obrigados a dividir o mesmo recinto. Em pouco tempo estavam conversando e comentando sobre a tempestade que assolava a região naquele instante. Até que o momento tão esperado aconteceu! A bela moça de cabelos negros e compridos, e um perfume tão intenso e agradável que lembrava as propagandas do “212 da Carolina Herrera” havia se desfeito de seu escudo. Com um leve toque, suspendeu o óculos escuro e o transformou em uma espécie de prendedor de cabelo. O brilho dos seus olhos castanhos claros era tão intenso quanto à chuva que insistia em cair do lado de fora. Apesar de torrencial, a chuva não demorou em cessar. Entre sorrisos discretos e gargalhadas em alto tom, eles saíram do recinto onde estavam e voltaram para o lado de fora. A chuva havia parado. O sol voltava a brilhar. A banda recomeçou. Tudo estava fluindo com uma naturalidade impressionante, mas, nada aconteceu e tudo voltou a ser como antes. A moça de corpo sedutor voltou para seu lugar e ele foi embora.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Dosado

Após pesquisar com aproximadamente 30 mulheres, de idades distintas, sobre qual a preferência delas entre “homem romântico e sem frescura”, obtive um resultado impressionante. ELAS NÃO SABEM! Quer dizer, algumas até sabem e ao serem questionadas, defenderam seu ponto de vista sem titubear, como uma leoa que protege seu filhote. Mas, digamos que mais de 70% das entrevistadas ficaram em cima do muro, ou como uma delas me disse: “Vou criar uma terceira opção: o dosado. Nem pouco romântico e nem muito cheio de frescura!” Mas, quando contra-argumentava, explicando que era uma pesquisa e tudo mais, quase implorando por uma resposta simples e direta, surgia a surpresa. Cerca de 60% das indecisas foram contra a ideia machista e utópica que mulher gosta de ser tratada mal e optaram pelo romantismo. Entretanto, outro comentário me chamou atenção: “Homem tem que ser romântico e não bundão!”. Pois bem, diante dos números (uma amostra bem pequena, eu sei!), mas que revelam alguma coisa sobre os mistérios na cabeça das mulheres que convivem ao meu redor; cheguei à conclusão que para você ser feliz, você deve seguir esse único passo:
Mande flores! Elas adoram. Mas, não se esqueça de pedir para a vendedora não retirar os espinhos. Assim, quando ela receber aquele bouquet de rosas vermelhas e perfumadas, vai admirá-lo e dizer que você é o cara certo, que dessa vez ela acertou! Que encontrou alguém romântico e sentimental. O cara perfeito. Mas, quando ela segurá-lo, com as mãos macias e delicadas e o espinho das rosas perfurarem seus dedos, ela se lembrará do quão cafajeste você é e aí sim, ela terá a mais absoluta certeza que você é o cara certo, ou melhor, a terceira opção da pesquisa, o cara “Dosado”.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Três segundos

Um leve tremor ocorreu entre meus dedos. Com uma mão no volante e a outra sobre o câmbio, olhei por cima dos ombros e fitei impressionado aquele belo par de olhos azuis, reluzentes como duas bolinhas de gude. Demorou um pouco até ela perceber que eu a observava. Como um tigre que vigia sua caça, eu a devorava com os olhos, esperando o momento certo para das o bote. Três segundos. Esse foi o tempo exato que ela levou para atravessar a rua. Tempo suficiente para admirá-la em todos os detalhes. Para notar que em um dos lados de sua cintura sinuosa, havia uma tatuagem com um formato ainda indescritível. Um par de brincos dourados como seu cabelo, brilhava em suas orelhas pequenas e arredondadas. Um caminhar sedutor e confiante, semelhante ao da “Gisele Bündchen”, esbanjava sensualidade na faixa de pedestre. E em seu rosto, havia um sorriso encantador, digno de propaganda de creme dental. Três segundos. Esse foi o tempo exato que levei para me apaixonar por inteiro pela bela moça de calças jeans, blusa branca e uma sapatilha azul, que por sinal, combinava de maneira única com seus belos olhos. Três segundos... Foi o tempo que me faltou para descer do carro e correr ao seu encontro. Um tempo que não volta. Um tempo que foi eterno. Eterno durante três segundos.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Realidade disfarçada.

- To indo! Falou com uma doçura impecável na voz. Mas, não era verdade, esperava a mais de uma hora e meia. Embora não gostasse de esperar, aquela noite ficaria pra sempre na sua memória. Após duas horas de espera e vários goles de um saboroso copo d’água, sua espera teria fim. Com um rebolado de parar o trânsito, o cabelo negro como a noite que os aguardava do lado de fora da casa, ela foi ao seu encontro. Um beijo de “oi” seguido de um abraço, foi tudo o que eles trocaram naquele momento. No caminho para o restaurante, a única palavra dita foi: “aumenta o som”. Um som agitado, embalado pelas baladas de “Black Eyed Peas”, foram preenchendo o vazio que perdurava dentro do carro. Ao chegar, ele tomou sua mão com a suavidade de um bloco de concreto enrolado em arame farpado. Aquela mão macia e perfumada, agora estava entrelaçada com a dele, que mais parecia uma lixa de parede. Apesar de poucas palavras, era notória a falta de um sentimento entre aquele casal. De um lado, estava uma moça com rosto angelical e do outro, um homem com cara de cavalo. Naquele momento, lembrei de um clássico infantil: “A Bela e a Fera”. Por um momento, achei que se tratava disso, até a ignorância tomar conta do ambiente. Uma resposta seca e grosseira. Um gesto arrogante. Era impressionante a falta de sensibilidade e educação do sujeito. Por um momento cheguei a acreditar na fábula que mulher gosta de ser maltratada. Mas, a verdade era outra. Ao levantar pra ir “mijar”(sim, essa foi a palavra usada pelo cidadão ao sair da mesa), ela me olhou. Com olhos cheios de medo, iguais aos do gato-de-botas do filme “Shrek”, ela me monitorava, de um lado para outro. De cima para baixo. Parecendo suplicar para que eu a tirasse daquela situação. O mais impressionante aconteceu depois. Ao voltar do banheiro, a “Fera” que não se parecia em nada com a do filme de Walt Disney, parou e flertou com a moça da mesa ao lado da minha. Por um instante, achei que aquela seria a “deixa” para retirar a moça da situação. Intenções em vão! O homem com cara de cavalo sentou-se na mesa e balbuciou algo pra a moça que sucumbiu e baixou a cabeça. Algo que parecia ter-lhe tirado a vida. Sua expressão que antes era de medo, passou a ser de desespero. Sua face antes corada, agora estava em um tom tão pálido quanto o guardanapo que o traste usava no pescoço. Antes mesmo que eu pudesse pensar em alguma coisa, a moça da outra mesa sentou-se com eles. E em um movimento rápido, beijou-lhe a boca suja de molho de tomate. O ar de insatisfação no belo rosto daquela jovem, jamais sairá das minhas lembranças. Só me dei conta do que estava acontecendo, quando um copo quebrou. E pude ver, que tudo o que antes parecia real, não passava de inveja alheia. E que o casal a minha frente, na verdade, era um casal feliz, e tudo que o havia visto, não passava de uma realidade disfarçada em sonho. E a moça na mesa ao meu lado, não existia.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O pra sempre, sempre acaba.

A simplicidade com a qual olhava para o porta retrato que repousava junto ao peito o fez lembrar os inúmeros bons momentos que passaram juntos. A cada página virada do álbum de fotos que acabara de preencher era como uma lâmina que penetrava lentamente e saia de maneira veloz, cortando ainda mais a pele de seu corpo volumoso. As lembranças do abraço apertado no hall do elevador surgiam como flashes dentro de sua cabeça cansada. O sussurro ao pé-de-ouvido parecia cada vez mais intenso: “Eu te amo. Pra sempre”. Por diversas vezes a mesma cena se repetia. Um abraço apertado no hall do elevador, seguido de um sussurro ao pé-de-ouvido: “Eu te amo. Pra sempre”. O sentimento de posse foi tomando o lugar da razão. O medo de perder era maior que o próprio desejo de estar junto. O carinho havia sido deixado de lado. O cafuné não estava mais tão gostoso. O sussurro virou apenas um simples tchau seguido de um selinho. O hall do elevador foi trocado pelo banco do passageiro...
A rotina havia penetrado tão fundo em suas vidas que não faziam outra coisa a não ser ver TV. O “eu te amo” foi perdendo entonação até não ser mais audível. O elevador estava só e o banco do passageiro estava vazio. O pra sempre, havia chegado ao fim.

Coma


Uma Luz intensa acertou-lhe os olhos. De repente, a escuridão se apoderou de tudo. Outro clarão intenso dominou seus olhos cansados. Novamente, a escuridão se fez. Perdido em pensamentos, mal conseguia distinguir os ruídos externos que transpassava por seus ouvidos. Outro clarão de luz surgiu. Forte. Impiedoso. Cegando seus olhos embaçados e cansados de tanto lutar contra as lágrimas. Lágrimas que não eram suas. A escuridão, agora dominava seus olhos. O frio apoderava-se de cada parte do seu corpo molhado em por algo viscoso. Não sentia fome. Não sentia dor. Não enxergava. Apenas ouvia. Com a audição prejudicada devida a idade e ao tempo que se encontrava nesse estado. Seguindo em constante declínio até não conseguir escutar os ruídos externos que lhes trazia a certeza de que ainda estava vivo. Estava mudo. Frio. Estático. No silêncio de um quarto repleto de aparelhos eletrônicos, tudo o que fazia era repousar. Dormir. Cochilar e Esperar. Esperar e Esperar. Não se mexia. Estava em coma profundo.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Já passava das onze da noite quando resolvi sentar e escrever. No início, tentei transformar um sentimento melancólico em algo literal. Mas, você não saia da minha cabeça. Ficou circulando entre as páginas de Cegato Bertomeu e as folhas em branco de um caderno velho. Parei de escrever e passei a observá-la. Tramava uma forma de afastá-la por completo da minha vida. Para sempre. Sua existência não significava nada para mim. Não a queria por perto de forma alguma. Abri a porta e você não saiu. Xinguei até não poder mais e ela fingia que não escutava. Ameacei tirar-lhe a vida. Mas, de maneira consistente, permanecia atrapalhando minha concentração. PAFT!!! O primeiro tapa foi desferido. Por um momento, imaginei que havia acertado. Mas, logo percebi que não havia sequer chegado próximo. O susto pareceu significar alguma coisa. Ela sumiu. Retomei a leitura. A escrita. Voltava a recontar entre versos literários e bucólicos, sentimentos que jurei esquecer. Já era madrugada quando você voltou e sussurrou em meu ouvido. Por um instante pensei estar sonhando. O sussurro aumentou. A intolerância também. Com um arremesso certeiro, acertei o livro bem no meio do peito. Havia sangue. O sangue que antes era meu, agora escorria por suas feridas abertas. Estava morta. Enfim, havia matado a infeliz muriçoca que tanto me perseguiu noite adentro.

O gosto amargo da súbita dor.

Já era fim de noite quando a primeira mensagem chegou. Entre palavras e devaneios literários, escondia a aflição de saber o que em breve poderia acontecer. Adentrava a madrugada quando a segunda mensagem chegou. Embora não demonstrasse, algo havia destruído aquele momento de concentração. A terceira mensagem chegou fria, como o vento gelado que corria entre os cabelos macios e bagunçados. Tremendo, conseguiu digitar a primeira resposta para o insucesso da relação. Passava das três da madrugada. Lágrimas escorriam pelo rosto, serpenteava a boca e se derramava sobre as páginas do livro de auto-ajuda. O gosto amargo na boca se assemelhava ao café frio, sem açúcar, que por muitas vezes foi obrigado a tomar por chegar atrasado ao saguão onde todos da empresa se reuniam. A súbita dor veio de forma aguda. Intolerante. Rasgando lhe o peito e expondo feridas e traumas que há muito havia esquecido. A quarta mensagem chegou. Um pedido de desculpa seguido de um “te amo pra sempre”. O livro caiu. A porta fechou. Não tinha forças nem para erguer o leve e pequeno celular que por anos foi um grande companheiro e naquela madrugada, o havia traído, transcrevendo mensagens sinceras e dolorosas. Os primeiros raios da manhã surgiam e tocaram-lhe o rosto. Quente como a paixão que vivera. Suave com o beijo que não poderá mais sentir. Brilhante como a pedra do anel que nunca lhe dera. Amarelo, como o sorriso que agora estampa seu rosto.  A noite chegou. Fria. Dolorosa. Realista. Nenhuma mensagem chegou. Só havia o gosto amargo da súbita dor.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Um cara qualquer ou qualquer cara?

Como dizia Martinho da vila “Já tive mulheres de todos os tipos, de várias idades, de muitos amores” – Esse tipo de argumento é muito comum ouvirmos de homens que preferem demonstrar que são os “Bam-Bam-bans” ao expressar seus verdadeiros sentimentos por terem perdido esposas, namoradas, amantes. Culpa deles? Não sei. Mas, em uma sociedade cada vez mais feminista, eles são conhecidos como: “qualquer cara”.

Mas, não significa dizer que você precisa sair por aí chorando miséria toda vez que levar um fora, ou terminar um relacionamento. 
Tá tem muito homem que faz isso, conheço uns!
Mas, voltando, ao assunto. Um cara qualquer é o inverso disso tudo! É o cara que vai pra cama com sua mulher, porque você preferiu tomar cerveja até tarde com um grupo de amigos e aquela secretária gostosa da empresa onde você trabalha. É o cara que ajuda a sua mulher a trocar o pneu na volta do supermercado porque você ficou em casa pra assistir o futebol. Esse, é literalmente, o cara. Ou melhor, um cara qualquer.
A pior parte é quando ela solta a frase que mais parece um chute do Roberto Carlos bem direto no saco: “fui chamada de gostosa hoje! E você aí fica me criticando!”. E você, puto de raiva pergunta: “Quem foi esse F&#@d@&8*?!” e ela toda empinada, se achando à poderosa (e com razão) responde: “foi um cara qualquer”. Aí, erroneamente você fica tranquilo, achando que foi mais um “engraçadinho” que falou isso porque você não estava por perto. Cuidado meu caro. Qualquer cara pode arrumar uma mulher, mas, um cara qualquer, sempre vai estar por perto.