segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um dia qualquer

Era impressionante e ao mesmo tempo angustiante passar cada segundo sem saber pra onde ela olhava. Não sabia se as flechas que disparava com os olhos em sua direção, acertavam o alvo ou eram refletidas por um imenso escudo em forma de óculos escuro. Cada segundo parecia durar uma eternidade. Um sorriso com o canto da boca, um leve toque nos lábios com os dedos, e só. Por um período que prefiro chamar de longo, apesar de representar frações de uma hora, não conseguia penetrar em seu casulo forte e resistente. Um óculos escuro era tudo que o separava da verdade e o mantinha em um mar de incerteza. Por sorte ou por puro acaso, seus caminhos enfim se encontrariam. Começou a chover. No início, uma chuva bem fininha caía sobre o salão onde estavam e em pouco tempo se tornou uma tormenta de proporções gigantescas.  Devido à área coberta do local ser bem menor do que imaginavam, foram obrigados a dividir o mesmo recinto. Em pouco tempo estavam conversando e comentando sobre a tempestade que assolava a região naquele instante. Até que o momento tão esperado aconteceu! A bela moça de cabelos negros e compridos, e um perfume tão intenso e agradável que lembrava as propagandas do “212 da Carolina Herrera” havia se desfeito de seu escudo. Com um leve toque, suspendeu o óculos escuro e o transformou em uma espécie de prendedor de cabelo. O brilho dos seus olhos castanhos claros era tão intenso quanto à chuva que insistia em cair do lado de fora. Apesar de torrencial, a chuva não demorou em cessar. Entre sorrisos discretos e gargalhadas em alto tom, eles saíram do recinto onde estavam e voltaram para o lado de fora. A chuva havia parado. O sol voltava a brilhar. A banda recomeçou. Tudo estava fluindo com uma naturalidade impressionante, mas, nada aconteceu e tudo voltou a ser como antes. A moça de corpo sedutor voltou para seu lugar e ele foi embora.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Dosado

Após pesquisar com aproximadamente 30 mulheres, de idades distintas, sobre qual a preferência delas entre “homem romântico e sem frescura”, obtive um resultado impressionante. ELAS NÃO SABEM! Quer dizer, algumas até sabem e ao serem questionadas, defenderam seu ponto de vista sem titubear, como uma leoa que protege seu filhote. Mas, digamos que mais de 70% das entrevistadas ficaram em cima do muro, ou como uma delas me disse: “Vou criar uma terceira opção: o dosado. Nem pouco romântico e nem muito cheio de frescura!” Mas, quando contra-argumentava, explicando que era uma pesquisa e tudo mais, quase implorando por uma resposta simples e direta, surgia a surpresa. Cerca de 60% das indecisas foram contra a ideia machista e utópica que mulher gosta de ser tratada mal e optaram pelo romantismo. Entretanto, outro comentário me chamou atenção: “Homem tem que ser romântico e não bundão!”. Pois bem, diante dos números (uma amostra bem pequena, eu sei!), mas que revelam alguma coisa sobre os mistérios na cabeça das mulheres que convivem ao meu redor; cheguei à conclusão que para você ser feliz, você deve seguir esse único passo:
Mande flores! Elas adoram. Mas, não se esqueça de pedir para a vendedora não retirar os espinhos. Assim, quando ela receber aquele bouquet de rosas vermelhas e perfumadas, vai admirá-lo e dizer que você é o cara certo, que dessa vez ela acertou! Que encontrou alguém romântico e sentimental. O cara perfeito. Mas, quando ela segurá-lo, com as mãos macias e delicadas e o espinho das rosas perfurarem seus dedos, ela se lembrará do quão cafajeste você é e aí sim, ela terá a mais absoluta certeza que você é o cara certo, ou melhor, a terceira opção da pesquisa, o cara “Dosado”.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Três segundos

Um leve tremor ocorreu entre meus dedos. Com uma mão no volante e a outra sobre o câmbio, olhei por cima dos ombros e fitei impressionado aquele belo par de olhos azuis, reluzentes como duas bolinhas de gude. Demorou um pouco até ela perceber que eu a observava. Como um tigre que vigia sua caça, eu a devorava com os olhos, esperando o momento certo para das o bote. Três segundos. Esse foi o tempo exato que ela levou para atravessar a rua. Tempo suficiente para admirá-la em todos os detalhes. Para notar que em um dos lados de sua cintura sinuosa, havia uma tatuagem com um formato ainda indescritível. Um par de brincos dourados como seu cabelo, brilhava em suas orelhas pequenas e arredondadas. Um caminhar sedutor e confiante, semelhante ao da “Gisele Bündchen”, esbanjava sensualidade na faixa de pedestre. E em seu rosto, havia um sorriso encantador, digno de propaganda de creme dental. Três segundos. Esse foi o tempo exato que levei para me apaixonar por inteiro pela bela moça de calças jeans, blusa branca e uma sapatilha azul, que por sinal, combinava de maneira única com seus belos olhos. Três segundos... Foi o tempo que me faltou para descer do carro e correr ao seu encontro. Um tempo que não volta. Um tempo que foi eterno. Eterno durante três segundos.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Realidade disfarçada.

- To indo! Falou com uma doçura impecável na voz. Mas, não era verdade, esperava a mais de uma hora e meia. Embora não gostasse de esperar, aquela noite ficaria pra sempre na sua memória. Após duas horas de espera e vários goles de um saboroso copo d’água, sua espera teria fim. Com um rebolado de parar o trânsito, o cabelo negro como a noite que os aguardava do lado de fora da casa, ela foi ao seu encontro. Um beijo de “oi” seguido de um abraço, foi tudo o que eles trocaram naquele momento. No caminho para o restaurante, a única palavra dita foi: “aumenta o som”. Um som agitado, embalado pelas baladas de “Black Eyed Peas”, foram preenchendo o vazio que perdurava dentro do carro. Ao chegar, ele tomou sua mão com a suavidade de um bloco de concreto enrolado em arame farpado. Aquela mão macia e perfumada, agora estava entrelaçada com a dele, que mais parecia uma lixa de parede. Apesar de poucas palavras, era notória a falta de um sentimento entre aquele casal. De um lado, estava uma moça com rosto angelical e do outro, um homem com cara de cavalo. Naquele momento, lembrei de um clássico infantil: “A Bela e a Fera”. Por um momento, achei que se tratava disso, até a ignorância tomar conta do ambiente. Uma resposta seca e grosseira. Um gesto arrogante. Era impressionante a falta de sensibilidade e educação do sujeito. Por um momento cheguei a acreditar na fábula que mulher gosta de ser maltratada. Mas, a verdade era outra. Ao levantar pra ir “mijar”(sim, essa foi a palavra usada pelo cidadão ao sair da mesa), ela me olhou. Com olhos cheios de medo, iguais aos do gato-de-botas do filme “Shrek”, ela me monitorava, de um lado para outro. De cima para baixo. Parecendo suplicar para que eu a tirasse daquela situação. O mais impressionante aconteceu depois. Ao voltar do banheiro, a “Fera” que não se parecia em nada com a do filme de Walt Disney, parou e flertou com a moça da mesa ao lado da minha. Por um instante, achei que aquela seria a “deixa” para retirar a moça da situação. Intenções em vão! O homem com cara de cavalo sentou-se na mesa e balbuciou algo pra a moça que sucumbiu e baixou a cabeça. Algo que parecia ter-lhe tirado a vida. Sua expressão que antes era de medo, passou a ser de desespero. Sua face antes corada, agora estava em um tom tão pálido quanto o guardanapo que o traste usava no pescoço. Antes mesmo que eu pudesse pensar em alguma coisa, a moça da outra mesa sentou-se com eles. E em um movimento rápido, beijou-lhe a boca suja de molho de tomate. O ar de insatisfação no belo rosto daquela jovem, jamais sairá das minhas lembranças. Só me dei conta do que estava acontecendo, quando um copo quebrou. E pude ver, que tudo o que antes parecia real, não passava de inveja alheia. E que o casal a minha frente, na verdade, era um casal feliz, e tudo que o havia visto, não passava de uma realidade disfarçada em sonho. E a moça na mesa ao meu lado, não existia.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O pra sempre, sempre acaba.

A simplicidade com a qual olhava para o porta retrato que repousava junto ao peito o fez lembrar os inúmeros bons momentos que passaram juntos. A cada página virada do álbum de fotos que acabara de preencher era como uma lâmina que penetrava lentamente e saia de maneira veloz, cortando ainda mais a pele de seu corpo volumoso. As lembranças do abraço apertado no hall do elevador surgiam como flashes dentro de sua cabeça cansada. O sussurro ao pé-de-ouvido parecia cada vez mais intenso: “Eu te amo. Pra sempre”. Por diversas vezes a mesma cena se repetia. Um abraço apertado no hall do elevador, seguido de um sussurro ao pé-de-ouvido: “Eu te amo. Pra sempre”. O sentimento de posse foi tomando o lugar da razão. O medo de perder era maior que o próprio desejo de estar junto. O carinho havia sido deixado de lado. O cafuné não estava mais tão gostoso. O sussurro virou apenas um simples tchau seguido de um selinho. O hall do elevador foi trocado pelo banco do passageiro...
A rotina havia penetrado tão fundo em suas vidas que não faziam outra coisa a não ser ver TV. O “eu te amo” foi perdendo entonação até não ser mais audível. O elevador estava só e o banco do passageiro estava vazio. O pra sempre, havia chegado ao fim.

Coma


Uma Luz intensa acertou-lhe os olhos. De repente, a escuridão se apoderou de tudo. Outro clarão intenso dominou seus olhos cansados. Novamente, a escuridão se fez. Perdido em pensamentos, mal conseguia distinguir os ruídos externos que transpassava por seus ouvidos. Outro clarão de luz surgiu. Forte. Impiedoso. Cegando seus olhos embaçados e cansados de tanto lutar contra as lágrimas. Lágrimas que não eram suas. A escuridão, agora dominava seus olhos. O frio apoderava-se de cada parte do seu corpo molhado em por algo viscoso. Não sentia fome. Não sentia dor. Não enxergava. Apenas ouvia. Com a audição prejudicada devida a idade e ao tempo que se encontrava nesse estado. Seguindo em constante declínio até não conseguir escutar os ruídos externos que lhes trazia a certeza de que ainda estava vivo. Estava mudo. Frio. Estático. No silêncio de um quarto repleto de aparelhos eletrônicos, tudo o que fazia era repousar. Dormir. Cochilar e Esperar. Esperar e Esperar. Não se mexia. Estava em coma profundo.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Já passava das onze da noite quando resolvi sentar e escrever. No início, tentei transformar um sentimento melancólico em algo literal. Mas, você não saia da minha cabeça. Ficou circulando entre as páginas de Cegato Bertomeu e as folhas em branco de um caderno velho. Parei de escrever e passei a observá-la. Tramava uma forma de afastá-la por completo da minha vida. Para sempre. Sua existência não significava nada para mim. Não a queria por perto de forma alguma. Abri a porta e você não saiu. Xinguei até não poder mais e ela fingia que não escutava. Ameacei tirar-lhe a vida. Mas, de maneira consistente, permanecia atrapalhando minha concentração. PAFT!!! O primeiro tapa foi desferido. Por um momento, imaginei que havia acertado. Mas, logo percebi que não havia sequer chegado próximo. O susto pareceu significar alguma coisa. Ela sumiu. Retomei a leitura. A escrita. Voltava a recontar entre versos literários e bucólicos, sentimentos que jurei esquecer. Já era madrugada quando você voltou e sussurrou em meu ouvido. Por um instante pensei estar sonhando. O sussurro aumentou. A intolerância também. Com um arremesso certeiro, acertei o livro bem no meio do peito. Havia sangue. O sangue que antes era meu, agora escorria por suas feridas abertas. Estava morta. Enfim, havia matado a infeliz muriçoca que tanto me perseguiu noite adentro.

O gosto amargo da súbita dor.

Já era fim de noite quando a primeira mensagem chegou. Entre palavras e devaneios literários, escondia a aflição de saber o que em breve poderia acontecer. Adentrava a madrugada quando a segunda mensagem chegou. Embora não demonstrasse, algo havia destruído aquele momento de concentração. A terceira mensagem chegou fria, como o vento gelado que corria entre os cabelos macios e bagunçados. Tremendo, conseguiu digitar a primeira resposta para o insucesso da relação. Passava das três da madrugada. Lágrimas escorriam pelo rosto, serpenteava a boca e se derramava sobre as páginas do livro de auto-ajuda. O gosto amargo na boca se assemelhava ao café frio, sem açúcar, que por muitas vezes foi obrigado a tomar por chegar atrasado ao saguão onde todos da empresa se reuniam. A súbita dor veio de forma aguda. Intolerante. Rasgando lhe o peito e expondo feridas e traumas que há muito havia esquecido. A quarta mensagem chegou. Um pedido de desculpa seguido de um “te amo pra sempre”. O livro caiu. A porta fechou. Não tinha forças nem para erguer o leve e pequeno celular que por anos foi um grande companheiro e naquela madrugada, o havia traído, transcrevendo mensagens sinceras e dolorosas. Os primeiros raios da manhã surgiam e tocaram-lhe o rosto. Quente como a paixão que vivera. Suave com o beijo que não poderá mais sentir. Brilhante como a pedra do anel que nunca lhe dera. Amarelo, como o sorriso que agora estampa seu rosto.  A noite chegou. Fria. Dolorosa. Realista. Nenhuma mensagem chegou. Só havia o gosto amargo da súbita dor.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Um cara qualquer ou qualquer cara?

Como dizia Martinho da vila “Já tive mulheres de todos os tipos, de várias idades, de muitos amores” – Esse tipo de argumento é muito comum ouvirmos de homens que preferem demonstrar que são os “Bam-Bam-bans” ao expressar seus verdadeiros sentimentos por terem perdido esposas, namoradas, amantes. Culpa deles? Não sei. Mas, em uma sociedade cada vez mais feminista, eles são conhecidos como: “qualquer cara”.

Mas, não significa dizer que você precisa sair por aí chorando miséria toda vez que levar um fora, ou terminar um relacionamento. 
Tá tem muito homem que faz isso, conheço uns!
Mas, voltando, ao assunto. Um cara qualquer é o inverso disso tudo! É o cara que vai pra cama com sua mulher, porque você preferiu tomar cerveja até tarde com um grupo de amigos e aquela secretária gostosa da empresa onde você trabalha. É o cara que ajuda a sua mulher a trocar o pneu na volta do supermercado porque você ficou em casa pra assistir o futebol. Esse, é literalmente, o cara. Ou melhor, um cara qualquer.
A pior parte é quando ela solta a frase que mais parece um chute do Roberto Carlos bem direto no saco: “fui chamada de gostosa hoje! E você aí fica me criticando!”. E você, puto de raiva pergunta: “Quem foi esse F&#@d@&8*?!” e ela toda empinada, se achando à poderosa (e com razão) responde: “foi um cara qualquer”. Aí, erroneamente você fica tranquilo, achando que foi mais um “engraçadinho” que falou isso porque você não estava por perto. Cuidado meu caro. Qualquer cara pode arrumar uma mulher, mas, um cara qualquer, sempre vai estar por perto.