quinta-feira, 28 de abril de 2011

Recomeço

Você balbuciou algumas besteiras tentando me ferir e se esqueceu de olhar no espelho. As farpas que tinham como endereço o meu peito, retornaram com violência pra dentro do seu. Palavras erradas, ditas de maneira sincera. Verdades que não significavam absolutamente nada, mas, em seu mundo de faz de conta, seriam sinônimos de coragem. Você disparou contra mim, e se gabava disso. E eu, lamentava sua total falta de controle.

Já era final de tarde quando resolvi olhar pela janela. A mesma cena se repetia. No mesmo cenário, nada tinha mudado, a não ser pela sua total discrepância que ainda remoía meu estômago, igual àquela vez que comemos o pudim que estava há três semanas na geladeira. A velha parede branca, agora com algumas sujeiras de lama por causa das fortes chuvas, foi a única coisa que mudou. Porque a grama, que nunca vai ser tão verde quanto à do vizinho por conta dos inúmeros grilos que moram no jardim, continuava a mesma. Lá fora, tudo estava do mesmo jeito. Aqui dentro, tudo se reconstruía.

Um dia você vai me pedir pra voltar, e eu, vou olhar nos seus olhos, enquanto abraço sua mão contra o peito e com um tímido sorriso amarelo, vou dizer: “sabe, o problema agora não é mais com você, é comigo, desculpa!”. 

Então, vou puxar a cadeira e me sentar, enquanto fico pacientemente me perguntando se essa seria a melhor decisão.

Já passava das 11 da noite e tudo o que eu tinha feito era pensar e consumir alguns goles de um uísque falsificado e um tanto quanto aguado. Era estranho estar sentado ali, mas, ao mesmo tempo, era a única forma de reviver um romance que não existia mais, um romance que havia se dissolvido, feito o gelo no copo de um uísque falsificado.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Sinfonia no Jardim

É difícil entender como uma noite que está tão boa, consegue se transformar em um pesadelo.  Tudo ia super bem, a garoa já tinha parado; a lua, mesmo encoberta por algumas finas camadas de nuvem, brilhava e refletia nos seus olhos, todos os meus desejos.

Saí de casa tão depressa que nem reparei que ao lado de fora, a garoa já tinha parado e a baixa temperatura tinha feito o orvalho se espalhar pela grama. O cricrilar dos grilos, pareciam uma sinfonia quando se juntavam com o coaxar de alguns sapos que estavam espalhados pelo jardim. A noite era perfeita, digna de um verdadeiro romance. E quando dei por mim, lá estava eu, sentado outra vez no banco do passageiro do seu carro.

Seria muito prazeroso ficar ali, parado, admirando seu olhar e sua gargalhada estridente por me ver todo arrumado e com um corte de cabelo novo. Pra completar, o som ambiente ficou ainda melhor por conta da trilha sonora que rolava dentro do carro. Não lembro bem o nome da música, mas era da banda Maskavo. E você, achando que eu não conhecia, ficava insistindo que a banda era muito boa.

Quando a música parou, cerca de um minuto depois que eu entrei, eu perguntei para onde íamos, e você rapidamente tratou de tirar o sorriso do rosto dizendo “pra lugar nenhum, hoje, a gente conversa aqui mesmo”. Confesso que achei estranho, mas, logo fui compreendendo a situação.

“É, a garoa parou!”, você falou enquanto colocava a mão para fora da janela. Sem pestanejar, abrir a porta e saltei. A sinfonia do jardim continuava a mesma, só que agora, a plateia era formada por duas pessoas. Sem pensar muito, levantei a cabeça e olhei pra lua. Apesar da noite está fria, a lua parecia brilhar como o sol, exceto por algumas nuvens fininhas que insistiam em fazer parte do cenário e durante alguns momentos, impediam o seu brilho total.

“precisamos conversar!” você disparou com uma voz rouca e mais fria do que a noite que estava fazendo. Sentada no capô, você me tomou pelas mãos e disse que o problema não era comigo, mas sim com você. Por um instante, a sinfonia parou, o brilho da lua foi encoberto pelas nuvens e gotas de chuva caíam sobre seu rosto, se misturando com algumas lágrimas a mais. 

“Desculpa...” era só o que eu conseguia escutar você dizendo.

sábado, 16 de abril de 2011

Batom Laranja

Coisas incríveis também acontecem com pessoas normais. Em um momento estamos ricos e de repente: PUFF! Perdemos tudo! Ou ao contrário, estamos pobres e de repente ficamos ricos! - Tá, esse último é bem mais difícil de acontecer, mas acontece!

Mais de um mês tinha se passado desde o nosso último abraço, e eu ainda lembrava o quão ele era confortável. Lembrava também da manchinha que apareceu no seu rosto e tinha te deixado paranoica. Era uma coisa tão pequena, que parecia uma lágrima. Até hoje lembro as suas constantes reclamações por causa daquela coisinha minúscula que nunca saia do seu rosto e dos óculos escuro bem grande que você usava para escondê-la. Mas, quer saber? Eu até que gostei, porque você ficava ainda mais normal e menos Barbie.

- Alô? Duda? Tá me ouvindo? Essa introdução se repetiu por quase um mês. Entre altos e baixos, me contava tudo sobre sua viagem a São Paulo. As idas e vindas pelo interior paulista. De Araras para Americana e vice-versa. Tudo era motivo de alegria e festa, não tinha espaço para problemas. Durante quase um mês eu fui somente ouvidos. Estava me sentindo praticamente uma Orelha Gigante, mas, não tinha do que reclamar.

Durante uma de nossas conversas, você me apresentou seu mais novo item de beleza: um batom de cor laranja. De início, confesso que achei estranho. Mas, você foi logo tratando de mandar uma foto com o tal batom. Não deu outra! Sua boca sedutora, com lábios bem desenhados e não muito carnudos estavam perfeitos! Foi a primeira vez que vi um batom de cor laranja, mas, não foi a primeira vez que admirei e desejei sua boca.

A melhor foto, o melhor sorriso e o melhor olhar, estavam juntos com o maior problema: o coração. Não que este último seja um problema, mas sim, o fato de não estar dentro dele.

Nossas conversas nunca deixarão de existir, só que agora, somos duas Orelhas Gigantes, com a pequena diferença de que uma, tem uma boca que usa um batom laranja e a outra, nem coração tem.