terça-feira, 31 de maio de 2011

Filosofia


Não faça chorar àquela pobre criança que sempre lhe olhou sorrindo, pois um dia, essa mesma criança aprenderá a sorrir enquanto você chora. E, só então será possível mensurar o estrago feito por uma palavra não dita ou um abraço que não se completou. Ame a vida que lhe foi dada e viva com orgulho a vida que escolheu amar, mesmo não sendo fã de poesia e não sabendo por onde começar.

Prestar atenção em quem está ao seu lado pode ser mais importante do que acertar na loteria e ter a felicidade de se tornar milionário. Somos passíveis de erros, por isso, todos deveriam ter uma segunda chance. Errar é humano e persistir no erro não é sinal de burrice, é descobrir a essência de Thomas Edison e de maneira autodidata, aprender uma nova forma para não errar novamente.

As amizades quando verdadeiras prevalecem por longos anos e esses verdadeiros amigos, mesmo ausentes por tanto tempo descobrem no um a real importância do outro. Dizer ‘eu te amo’ é simples e muito fácil, o difícil mesmo é calar-se e mesmo assim, ter seu amor compreendido pelo outro. O beijo roubado é infinitamente melhor e mais saboroso do que aquele que é solicitado. E o conquistado então? Esse, nunca se perderá no imenso mar de lembranças.

Somos fruto de um mundo que não para, de um tempo veloz, sedutor e que pouco a pouco nos toma pelos braços e nos conduz para um local um tanto quanto diferente. Um local onde a experiência vale mais do que o porte físico e que as memórias adquiridas se tornam de extrema funcionalidade. Estamos em casa e, nessa casa chamada vida, todos sem exceção são bem-vindos e merecem uma chance, às vezes até duas, de chegarem e ficar pra sempre.

domingo, 15 de maio de 2011

Nostalgia

A necessidade de ficar em paz era maior do que a vontade de mexer-se outra vez. E a cada passo dado, uma certeza se confirmava. A cada respiração profunda, uma nova vitalidade preenchia velhos pulmões cansados de tantos cigarros e outras porcarias. Um sorriso se perdera em meio a tantos outros, uma boca cansada de tanto falar asneiras agora repousava sobre nova companhia e, um pranto lamentável ainda pairava sobre o coração da menina que um dia foi mulher.

Um dia, hei de lembrar-te dos verdes campos e das palmeiras onde cantava o sabiá. Da menina bonita que corria mar adentro na esperança de alcançar Iemanjá. Das estripulias que eram feitas durante as tardes entediantes de um verão contínuo. Da lágrima comovente que do seu rosto escorria ao vê-lo partir e de todo o cenário tranquilo que ficou para trás.

O tempo agora é outro, mas, a necessidade da lembrança é a mesma. Viver um tempo que não lhe pertence mais é tão bom quanto o novo tempo que ainda há de vir. O mundo vive de passado, de histórias, lembranças e de vários acontecimentos marcantes. Como podes julgar ser o seu tempo mais importante do que o do outro? Como pode não achar significância em cada ato acometido no passado? Nosso passado não deve ser ignorado, deve servir de aprendizado para o futuro.

Espero um dia encontrar um passado cujo nome seja esperança, para assim, ter a certeza de que ele será o último a morrer.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A resposta é sim

Pela última vez, será que da pra você parar de falar e me ouvir? Toda vez é assim, você nunca escuta! Nunca aceita que está errado e sempre tem resposta na ponta da língua pra tudo. Pra tudo mesmo! Que coisa mais chata. Esse seu orgulho não vai levar você a lugar nenhum e ainda por cima, acaba com qualquer coisa. Presta atenção no que você está fazendo...

Algumas horas depois de uma ladainha que parecia não ter fim e de deixar qualquer psicólogo cansado, só conseguia lembrar uma, apenas uma coisa entre tantas outras que você dizia aquela noite: “não me diga que vai parar e que vai mudar, eu não acredito mais! Porque toda vez é assim, basta eu sair que você vai lá e faz tudo de novo, do mesmo jeito. Esse seu orgulho acaba com qualquer coisa, só você que não enxerga isso”.

Depois disso, eu queria começar esquecendo tudo. Apagando letra por letra, palavra por palavra, lembrança por lembrança. Queria poder ir ao médico e fazê-lo deletar cada memória angustiante, cada verso declamado, cada bilhete escrito. Mas, lembrei-me das palavras sensatas e coerentes de Paulo Coelho: "Imagine uma nova história para sua vida e acredite nela".

Enquanto tentava limpar a bagunça que você havia deixado na minha cabeça, sorria sozinho com as paredes, pois mesmo depois de tudo o que você disse, não conseguia sentir outra coisa se não gratidão. Você sempre foi uma grande amiga e mesmo morando longe se fazia presente. E no final das contas só pensava: “Caramba, você vai mesmo casar!" E mesmo separados por algumas centenas de quilômetros, eu tinha certeza que você seria feliz. Ah, a resposta é sim! Com certeza serei seu padrinho!

(Para Tata)

domingo, 8 de maio de 2011

Diálogo diferente

Era só mais um casal na mesa ao lado, mas a sua indelicadeza persistia em apontar defeitos sobre eles. A reclamação era clara e fundamentada em um medo desconhecido de que aquilo que ocorria naquela mesa viesse a acontecer conosco. “Por que não separa logo ao invés de ficar assim?” Você continuava me perguntando e ‘alfinetando’ as duas pessoas que nem conhecia só porque estavam sentadas lado a lado e nem se olhavam. Por um momento cheguei a concordar com você, não me imaginava sentado ao seu lado na mesa de um bar sem que um bom papo surgisse.

Enquanto isso defendia a ideia de que essa enorme distância entre duas pessoas que se encontravam muito próximas tinha e não tinha explicação. Tinha explicação porque a sintonia que girava ao redor deles podia ser tão soberana que dispensava a conversa verbal e criava uma espécie de ‘diálogo diferente’, onde apenas o fato de estar perto e olhar nos olhos revelavam os desejos de um ao outro. E, não tinha explicação quando a sintonia era fraca, as preferências distintas, as ideias contrárias e por isso, acabava ficando diferente do ditado: “os opostos se atraem”.

Você alegava que aquilo era um defeito gigantesco para uma relação, que não conseguia entender como duas pessoas chegavam a esse nível de erro e o que era pior, condenava-os por sentarem-se à mesa de um bar e não conversarem, como se aquilo tudo fosse o fim do mundo.

Como último recurso para acabar com essa discussão besta e infantil, coloquei os dedos sobre o seu queixo e o puxei para o lado enquanto acariciava as maçãs do seu rosto com os dedos da outra mão. Um beijo mais demorado do que o de costume, um leve alisar de cabelo e um breve sussurro ao pé do ouvido: “O coração das pessoas são como pedras brutas de diamantes, a cada erro que cometem, uma lasca dessa pedra é retirada, até tornarem-se uma joia perfeita, valiosa e praticamente indestrutível. Por isso os ditados insistem em dizer que devemos aprender com os nossos erros. Errar é bom, partindo do principio de que é com eles que as pessoas se tornam melhores”. 

Eu já disse que amo você, mas será que a gente pode mudar de assunto?

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Música errada na hora certa

Onze e vinte e três de um sábado à noite. Mas, o que seria uma hora e vinte e três minutos de expectativa pra quem esperou uma noite inteira.  Mesmo após tanto tempo sentado, ainda me impressionava com a maciez do sofá da sua mãe.  A velha cadeira de balanço preta, que fazia um barulho agudo todo vez que alguém se embalava, agora estava muda. No vazio da sala, o som da TV preenchia o oco da minha cabeça e, o tic-tac do relógio ficava cada vez mais lento e a espera parecia não ter fim. 

Alguns cochilos depois, você entra pela sala e como em um passe de mágica, transforma um lindo sorriso em um bico tão grande quanto o de um tucano. Nem bem me cumprimentou e já foi partindo porta afora. “A gente vai se atrasar se você continuar dormindo!” você dizia com a voz ríspida e seca, enquanto ia em direção ao carro demonstrando raiva por eu ter cochilado; “Também pudera, você demorou um tempão”.

No rádio, uma música de Jota Quest refletiu um desejo que apesar de tudo, não parecia ser nosso: “Quer saber, já foi. Vou cuidar de mim”. O sinal ficou vermelho e o carro parou no momento em que você me olhava. Olhei de volta com a mesma arrogância com a qual fui tratado minutos antes e para minha surpresa, você deu um belo e radiante sorriso enquanto pedia desculpas e se defendia, dizendo que estava de TPM e que não tinha intenção alguma em me tratar mal. E eu não conseguia fazer outra coisa, se não sorrir de volta e colocar uma música mais agitada.

terça-feira, 3 de maio de 2011

E se eu tivesse ido?

Outro dia chegou atrasado e quando perguntei o motivo, saiu reclamando, dizendo que um idiota tinha cortado sua frente e por isso quase causava um acidente. Mas, nem se quer reparou que eu tinha cortado o cabelo. “Você cortou só dois dedos, como eu ia adivinhar?”. Não tinha cortado tudo isso, apenas as pontas. Mas, de que adiantaria ter ou não cortado, ele nunca iria “adivinhar”. Sempre fui carinhosa, melosa, cheia de mimos e caprichos. Me doei pra ele. Me entreguei de corpo e alma àquele amor imensurável que sentia, enquanto ele relutava e ficava sem graça em dizer que me amava na frente dos amigos.

Naquela manhã cinzenta, acordei disposta e decidida. Eu ia mudar! Não seria mais a menininha delicada e frágil que sempre precisou estar perto para se sentir protegida. Comecei desejando cores novas para minhas unhas. Vermelho-rubi, pra ver se conseguia chamar um pouco mais de atenção. Um dia de beleza, pra ver se virava uma musa do funk carioca, daquelas capazes de fazer o melhor motorista perder a linha e quase causar um acidente. Cabelo, maquiagem, contorno e uma hidratação. Me sentia uma perfeita diva e ia fazer de tudo para aquele dia ser mais do que especial, queria que ele fosse como a nossa primeira vez.

Lá pelas oito da noite cheguei em casa e tomei um banho rápido. Vesti um pretinho básico, daqueles que fica colado na bunda e deixa as pernas mais grossas. Por baixo, minha melhor lingerie. Um par de brincos vermelhos, para combinar com as unhas e um salto um tanto quanto alto, pra ficar do tamanho dele. Pronto! Agora eu estava pronta para ir à guerra e dessa vez, ele iria morrer (de tesão). 

Já eram quase dez e meia e nada dele aparecer. Liguei no celular e nada. Mandei mensagem e nada também. Esperei, esperei e esperei. Por volta de uma e pouco da manhã, após milhões de ligações e mensagens, e vários litros de lágrimas pelo vestido, ele voltou à ligação: “Que foi? Tem um monte de ligações suas aqui!” – “Não foi nada, só estava preocupada”. Não sei o que ele estava fazendo, não perguntei e não queria saber. E o que é pior, nem percebeu minha voz um pouco rouca e o soluço incontrolável de quem passou a noite inteira chorando por ele.

Voltei a chorar. As lágrimas agora saltavam dos olhos, feito pipoca em panela quente. A maquiagem, agora lavada com pranto, contribuía para aquela cena de horror. As mãos trêmulas se juntavam a uma vontade de sumir e nunca mais aparecer. Estava preste a morrer de desgosto quando o telefone tocou.

“Que é?” atendi com a voz embargada de tanto chorar. “você era mais educada hein?” a voz do outro lado respondeu sorrindo. Um suspiro mais forte da minha parte e ele continuou: “É o Rafael, lembra? O Rafa, amigo da Susi. Então, tô ligando porque acabei de chegar de viagem e tô chamando o pessoal pra ir pra balada, vamos comemorar  minha transferência de volta pra cá. Ah, a Susi vai, daí pensei em chamar você, tá convidada viu?”.

Um tanto quanto assustada, respondi um “OK”, tão frio que até fiquei mal depois. Um carinha qualquer, que havia pegado meu número um tempo atrás, tinha acabado de me chamar pra sair. Confesso que de início, nem lembrava quem era Rafael, muito menos Rafa. Mas, de que adiantaria, a noite estava perdida. E, até hoje me pergunto: E se eu tivesse ido? E entre lágrimas e soluços, adormeci mais uma noite sozinha. 

domingo, 1 de maio de 2011

Amor de aluguel

“Para-para-para, vai com calma!” Era só o que eu pedia pra ele entre um beijo e outro, enquanto procurava oxigênio para encher novamente os pulmões. Uma de suas mãos deslizava entre minhas pernas e vez que outra, encontrava o local que ele tanto queria aquela noite, enquanto a outra segurava com força meus cabelos escondidos próximos à nuca. Sede. Desejo. Paixão. Não sei! Com um pouco mais de destreza, a mão que antes passeava morro abaixo, agora percorria minha cintura, não tão fina quanto às de modelo, e dedo após dedo, caminhava sobre ela. Era só uma questão de tempo até ele encontrar meus seios um tanto quanto flácidos.

Após contar sobre sua última transa, ainda com o corpo suado, levantou e foi ao banheiro. O balançar do seu cabelo castanho claro e com algumas mechas um pouco loiras transformavam seu rosto de boneca em o de uma mulher. “não-não, brigada” respondeu de dentro do banheiro recusando a oferta de um cigarro. Sentado sobre a cama e com as costas voltadas pra parede, mirava a porta por onde ela havia entrado, esperando seu retorno.

“A conta, por favor”. Sair daquele motel sofisticado foi mais difícil do que entrar. Inúmeras perguntas de avaliação de atendimento, cadastros, pagamento, checkout do quarto e por fim, a saída. Já passava das cinco da manhã quando a deixei na porta de um sobrado no centro da cidade. Um beijo de despedia  no rosto, seguido de um abraço rápido; foi tudo que sobrou para aquele fim de noite e, literalmente, começo de manhã.

Voltando pra casa, observava o sol acordar para mais um dia, e ficava impressionado com a disposição das jovens senhoras que caminhavam pelas ruas tranquilas. Nesse momento, sorri comigo mesmo, lembrando-me do jargão que sempre repeti: “segunda-feira eu também começo”.  E, em meio a gargalhadas, liguei o som para espantar o sono, e para minha surpresa, a sua música favorita tocou, e aos poucos foi preenchendo o silêncio do banco vazio. O sorriso diminuiu, a frustração chegou e agora, uma nova pergunta revirava minha cabeça: “será que ela valia aquilo tudo?”.