quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O gosto amargo da súbita dor.

Já era fim de noite quando a primeira mensagem chegou. Entre palavras e devaneios literários, escondia a aflição de saber o que em breve poderia acontecer. Adentrava a madrugada quando a segunda mensagem chegou. Embora não demonstrasse, algo havia destruído aquele momento de concentração. A terceira mensagem chegou fria, como o vento gelado que corria entre os cabelos macios e bagunçados. Tremendo, conseguiu digitar a primeira resposta para o insucesso da relação. Passava das três da madrugada. Lágrimas escorriam pelo rosto, serpenteava a boca e se derramava sobre as páginas do livro de auto-ajuda. O gosto amargo na boca se assemelhava ao café frio, sem açúcar, que por muitas vezes foi obrigado a tomar por chegar atrasado ao saguão onde todos da empresa se reuniam. A súbita dor veio de forma aguda. Intolerante. Rasgando lhe o peito e expondo feridas e traumas que há muito havia esquecido. A quarta mensagem chegou. Um pedido de desculpa seguido de um “te amo pra sempre”. O livro caiu. A porta fechou. Não tinha forças nem para erguer o leve e pequeno celular que por anos foi um grande companheiro e naquela madrugada, o havia traído, transcrevendo mensagens sinceras e dolorosas. Os primeiros raios da manhã surgiam e tocaram-lhe o rosto. Quente como a paixão que vivera. Suave com o beijo que não poderá mais sentir. Brilhante como a pedra do anel que nunca lhe dera. Amarelo, como o sorriso que agora estampa seu rosto.  A noite chegou. Fria. Dolorosa. Realista. Nenhuma mensagem chegou. Só havia o gosto amargo da súbita dor.

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