terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Realidade disfarçada.

- To indo! Falou com uma doçura impecável na voz. Mas, não era verdade, esperava a mais de uma hora e meia. Embora não gostasse de esperar, aquela noite ficaria pra sempre na sua memória. Após duas horas de espera e vários goles de um saboroso copo d’água, sua espera teria fim. Com um rebolado de parar o trânsito, o cabelo negro como a noite que os aguardava do lado de fora da casa, ela foi ao seu encontro. Um beijo de “oi” seguido de um abraço, foi tudo o que eles trocaram naquele momento. No caminho para o restaurante, a única palavra dita foi: “aumenta o som”. Um som agitado, embalado pelas baladas de “Black Eyed Peas”, foram preenchendo o vazio que perdurava dentro do carro. Ao chegar, ele tomou sua mão com a suavidade de um bloco de concreto enrolado em arame farpado. Aquela mão macia e perfumada, agora estava entrelaçada com a dele, que mais parecia uma lixa de parede. Apesar de poucas palavras, era notória a falta de um sentimento entre aquele casal. De um lado, estava uma moça com rosto angelical e do outro, um homem com cara de cavalo. Naquele momento, lembrei de um clássico infantil: “A Bela e a Fera”. Por um momento, achei que se tratava disso, até a ignorância tomar conta do ambiente. Uma resposta seca e grosseira. Um gesto arrogante. Era impressionante a falta de sensibilidade e educação do sujeito. Por um momento cheguei a acreditar na fábula que mulher gosta de ser maltratada. Mas, a verdade era outra. Ao levantar pra ir “mijar”(sim, essa foi a palavra usada pelo cidadão ao sair da mesa), ela me olhou. Com olhos cheios de medo, iguais aos do gato-de-botas do filme “Shrek”, ela me monitorava, de um lado para outro. De cima para baixo. Parecendo suplicar para que eu a tirasse daquela situação. O mais impressionante aconteceu depois. Ao voltar do banheiro, a “Fera” que não se parecia em nada com a do filme de Walt Disney, parou e flertou com a moça da mesa ao lado da minha. Por um instante, achei que aquela seria a “deixa” para retirar a moça da situação. Intenções em vão! O homem com cara de cavalo sentou-se na mesa e balbuciou algo pra a moça que sucumbiu e baixou a cabeça. Algo que parecia ter-lhe tirado a vida. Sua expressão que antes era de medo, passou a ser de desespero. Sua face antes corada, agora estava em um tom tão pálido quanto o guardanapo que o traste usava no pescoço. Antes mesmo que eu pudesse pensar em alguma coisa, a moça da outra mesa sentou-se com eles. E em um movimento rápido, beijou-lhe a boca suja de molho de tomate. O ar de insatisfação no belo rosto daquela jovem, jamais sairá das minhas lembranças. Só me dei conta do que estava acontecendo, quando um copo quebrou. E pude ver, que tudo o que antes parecia real, não passava de inveja alheia. E que o casal a minha frente, na verdade, era um casal feliz, e tudo que o havia visto, não passava de uma realidade disfarçada em sonho. E a moça na mesa ao meu lado, não existia.

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